Reflexões
sobre Nanuque
Gleusa Ramos
Muito me encanta falar de Nanuque e, principalmente,
da nossa gente e seus feitos.
Percebo que temos um comércio de grande importância
para a cidade, haja vista o número de empresários de fora que aqui instalam
suas empresas. Deixamos a brecha, e eles ocupam os espaços. Não que isso seja
ruim, mas é que o nativo, o nanuquense com raízes profundas aqui, às vezes
desacredita da terra, deixando ao outro a oportunidade de negócio.
Todo negócio que se abre, espera-se lucro dele. Não
abrimos um ponto de venda só para enfeitar a rua ou ocupar o ponto comercial;
queremos resultado. Se é viável para o de fora, por que não um de nós
ocupar esse espaço?
Precisamos aprender a empreender, isso ninguém
nasce sabendo. Temos de nos preparar até para administrar um micronegócio,
quanto mais uma empresa formalizada... A visão de empreendedor independe
do tamanho e do ramo do negócio.
Temos uma cidade com poucos postos de trabalho,
isso devido a vários fatores, dentre eles a ausência de grandes empresas que
possam operar como ancoras. Isso não significa que vamos esperar ser fuzilados;
muito pelo contrário, devemos agir e ter criatividade para desenvolver uma
atividade que possa gerar lucro e garantir a sobrevivência de muitos.
Criatividade é algo que pode nos garantir a permanência no mercado empresarial.
Um dos pilares do desenvolvimento é a oportunidade.
Não devemos apenas esperar pela oportunidade, mas
buscar alternativas para criá-la: reparação de mão de obra local, focar
nas abundâncias naturais da região, aproveitar a geografia, buscar incentivos
governamentais, criar fomentos, cooperativas, eventos... É importante que a
cidade se destaque com sua maior vocação e, principalmente, buscar a ousadia e
empreendedorismo de pessoas que querem o desenvolvimento da sua cidade. Atrair
talentos, e não apenas exportar.
Enquanto a grande indústria não chega, porque não
criar a pequena? Quantos tipos de comércio podemos ter? E empresas de serviços?
ONGs, cooperativas, parcerias de produção, APLs?
É possível apoio do Sebrae, Sesc, Senac, Fiemg, CDLs...
Temos vários tipos de bancos que financiam bons projetos.
Também devemos considerar o que perdemos nos
últimos anos: a nossa usina Alcana e outras do entorno que tinham grande
importância para Nanuque e região; a diminuição da pecuária, que durante anos
nos manteve entre os melhores e maiores produtores de leite e que hoje já não
desperta tanto interesse aos criadores.
Deixamos de ser uma cidade com vocação predominantemente
pecuária para produzir cana, eucalipto, mudando assim totalmente
nossa cultura regional.
Então, nos restaram o Frisa e nossas lojas, que
aliás, devo considerar ser o comércio mais bonito da região. São
lojas de departamento bem equipadas, boutiques que não fariam feio em nenhum
shopping; muitas grifes são comercializadas aqui. Nesse quesito não temos
de que queixar. Também temos outros importantes eventos, como a Expoagro,
Motocross, Dia do Rock, festas juninas, alguns que se repetem anualmente, que
movimentam a cidade.
Nossos supermercados, oficinas, padarias,
academias, farmácias e tantos outros negócios geram alguns empregos, garantindo
assim a subsistência de muitas famílias. Houve um tempo em que nosso
jovem ia estudar fora, hoje essa
necessidade já não existe, temos aqui e na região escolas que podem garantir
sua permanência na terra, suprindo, assim, a necessidade de mão de obra especializada. São técnicos, administradores
etc. Porém, não é o suficiente.
Precisamos buscar alternativas de crescimento, daí entra a criatividade de cada
um, que deve descobrir os nichos do mercado e formalizar a ideia. Como ressaltamos
acima: descobrir oportunidades.
Esperar que, de repente, caia do céu uma grande
indústria para Nanuque? Tivemos uma oportunidade assim algum tempo atrás. Pode até acontecer, mas quando?
Daí, baixar armas é estar em uma batalha e se
deixar ser fuzilado. A possibilidade de fazer algo novo deve ser nossa, das
pessoas empreendedoras que agem sem esperar que outros tomem a iniciativa; sem
culpar o poder público pelas nossas incapacidades de criar. Esse poder
pode e deve abrir possibilidades para o povo crescer, oportunizar, através de
apoio logístico, o desenvolvimento e implantação de negócios que possam levar a
cidade a ter um crescimento permanente e sustentador dos seus cidadãos. Aliás,
sabemos ser o estado responsável por nos garantir vida digna a
todos.
Quero aqui ressaltar que nós, cidadãos,
somos corresponsáveis pela sustentação dos postos de trabalho
da nossa cidade. Logo, devemos comprar aqui, gerando renda e garantindo a
sustentabilidade das nossas empresas. Mas o que vemos é o silvicultor, que
quando recebe o dinheiro do corte vai gastar nas capitais, levando para outros
cofres o recurso que, com certeza, asseguraria o emprego de muitos. E o que é
pior, compra, muitas vezes fora, o que temos aqui. A globalização trouxe o
mundo para qualquer lugar do mundo.
Nosso comércio pode ser ainda melhor, se tivermos
um espírito associativista e juntos desenvolvermos ações coletivas visando seu
crescimento. Aí esbarramos num problema: ainda não entendemos essa necessidade.
Uma cidade com mais de 40 mil habitantes proporciona a oportunidade de 100% de
integração entre seus pares. Isso torna a convivência mais fraterna e segura,
fazendo com que a possibilidade de se instalar um sistema de GOVERNANÇA seja
real. Pra isto, precisaríamos dos olhares voltados para o mesmo ponto: a
busca de oportunidades com responsabilidade, participação e compromisso de todos.
Utopia? Não. GOVERNANÇA.
São muitas as ações a serem efetivadas. O processo
pode até ser lento, mas precisamos ter a visão comunitária de um futuro
melhor para todos.
Temos as vocações naturais do povo prontas a serem
desenvolvidas e depois exploradas, e com isso gerar um aumento na
economia de muitas famílias. É preciso capacitar o povo. Hoje temos acesso a
cursos online, presenciais, temos apoio do Sebrae e de outras entidades que nos
ajudam nesse processo.
Enfim, todos sonhamos com o crescimento e
desenvolvimento local, porém poucos se envolvem nessa busca e, bem menos ainda,
conhecem o caminho. Mas vejo que é possível ser feliz por aqui.